Globo e evangélicos: se não é possível vencê-los…

Globo e evangélicos: se não é possível vencê-los…

Com um olho na Record e outro no aumento do consumo evangélico, a Globo enfim abre espaço para pregadores-cantores não católicos.

 
Em julho desse ano a Rede Globo exibiu uma cena da novela Insensato Coração, então em cartaz no horário das nove, na qual um personagem homossexual dizia a uma interlocutora que sofria preconceito dos seus próprios pais por causa da influência de um pastor.
“A minha mãe só fala comigo para me dar sermão, o meu pai nunca passou do bom dia e cascudo. Os dois vão na conversa do pastor da igreja deles e me tratam como se eu fosse o fim do mundo”, disse um indignado Xicão a uma perplexa Dona Sueli.
Em nenhum momento da cena se usou a palavra “evangélico”, mas por certo o pastor em questão não era um pastor, digamos, anglicano. Seja por conspiração, seja por inspiração, o fato é que o autor do folhetim levou para a ficção a briga do patrão.
Como é do conhecimento de (quase) todos, a Rede Globo há tempos vive em pé de guerra com o bispo Edir Macedo, ou melhor, com a Igreja Universal do Reino de Deus, ou melhor, com a Rede Record, desde que a chamada “mídia evangélica” começou a arrebanhar parcelas significativas da audiência e, logo, do mercado publicitário.
Imperativos celestiais, ou melhor, comerciais
A polêmica cena de Insensato Coração foi apenas mais um entre tantos ataques da Rede Globo aos evangélicos, assim, na forma generalizada, pelo menos é desta maneira que boa parte deles, os evangélicos, que caminham para ser 50% da população brasileira na próxima década, vêm entendendo a ofensiva anti-Record da Globo.
À Globo, que não é boba, não interessa que amanhã ou depois seja deflagrada uma verdadeira “guerra santa” contra a besta do Jardim Botânico. Soma-se a isso imperativos comerciais e já se nota uma gradual mudança de estratégia da vênus platinada no trato com o mundo evangélico, sobretudo nos programas mais popularescos da casa.
Vide o fato de que o palco do Domingão do Faustão, onde até poucos meses atrás não pisava pregador-cantor que não fosse católico, agora recebe com espantosa frequência nomes famosos do louvor gospel, como Aline Barros, Fernanda Brum e Ana Paula Valadão — por sinal, todas artistas da Som Livre, gravadora da Globo que tomou a dianteira do único segmento que cresce em vendas no mercado fonográfico brasileiro, movimentando R$ 1,5 bilhão por ano.
‘Louvorzão’ no fim de ano da Globo
Mas surpreendente mesmo foi o anúncio de que a empresa de eventos das Organizações Globo, a Geo Eventos, está organizando um megafestival de música evangélica para 200 mil pessoas no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, em dezembro, e que a Globo vai filmar tudo e exibir o ‘louvorzão’ como especial de fim de ano.
E para quem acha mesmo que a cena polêmica de Insensato Coração se inscreve no auto-incensado esforço da emissora para colocar suas telenovelas supostamente a serviço da luta contra os preconceitos, vale uma olhada no perfil do pastor Silas Malafaia que a jornalista Daniela Ribeiro fez para a edição de setembro da revista Piauí.
Está lá a informação de que o pastor-midiático, que se apresenta como “combatedor das práticas” homossexuais e se ocupa atualmente em uma cruzada anti-casamento gay, mantém contato com a Globo desde o fim do ano passado, quando foi chamado para uma conversa com o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, que, segundo consta, queria “conhecer melhor o mundo dos evangélicos” e dizer ao novo amigo que Edir Macedo não era “a voz dos protestantes do Brasil”.

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